JAMES MARTINS

nenhuma poesia

quarta-feira, março 13, 2013

O Pelourinho e a cretinização total da cidade

As duas últimas vezes que encontrei (por acaso) o poeta e antropólogo Antonio Risério, ouvi dele a mesma frase, referindo-se a Salvador: “Cidade de cretinos”. E, sempre que vou ao Pelourinho (e eu vou muito ali), a queixa do poeta volta e me acerta como uma pedrada. De crack. Mas, quero falar da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de que eu tanto me orgulho e que, ultimamente, tem sido motivo de meu dissabor e símbolo da cretinização (oficial e espontânea) da cidade. Pois bem, há alguns anos a igreja foi atingida por um caminhão desgovernado que derrubou parte de seu portão principal e motivou a interdição do local para reforma. Longa reforma, por sinal. Até que, finalmente, no dia 15 de abril de 2012 o templo sagrado foi reaberto, para alegria dos tantos fiéis que frequentam as suas missas sincréticas. Como bom baiano, eu estava lá. E, a primeira coisa que notei: não reformaram nada! O portão quebrado continuava intacto. Talvez até um pouco mais quebrado. E, no interior, o reboco, fofo, caía aos pedaços. Outra coisa que me chamou a atenção, a ausência do governador na ocasião. Impossível não pensar em ACM e em sua ligação com essa parte da cidade. Eis o que eu me perguntava, sem achar resposta: por quê? Sim, aquela reforma era a cara do PT baiano. E a ausência de representantes do governo comprovava que eles não estão nem aí e nem estão chegando. Voltei para casa ainda sem entender o porque de uma reforma tão longa e tão nula. Para onde foram os recursos se até a pintura ía só até metade das paredes?

Pois bem, sem jamais saber ao certo se a galinha vem antes do ovo (ou vice-versa), eis que a cretinice governamental se espalha e espelha na população e chega inclusive às tradições. Para conseguir uns trocados a mais dos turistas lisos, lesos e loucos que vêm ao Pelô, os ambulantes locais (que, diga-se, estão bem mais educados e menos extorsivos!) inventaram a imbecilidade de que, se alguém amarrar uma fitinha do Bonfim (que eles dão de graça para depois quase te forçarem a comprar um colar) nas grades da igreja (as mesmas grades amassadas e humilhadas – vide foto) e fizer um pedido, será atendido. Resultado: o sóbrio templo muito mais ligado à luta que à súplica virou uma espécie de self-service-fast-food da fé. Agora, o tempo inteiro vem uma turistinha de sandália de couro, amarra sua fitinha na grade e faz um pedido para nem-sabe-quem, cretinizando o que já estava abandonado (porém, digno). Coisa horrível! E, além de tudo, é uma fita do Bonfim. Será que eles dizem que se trata de uma filial? Não duvido. Aliás, o Pelourinho, em matéria de simbologia, está se esvaziando totalmente em nome dos parcos lucros do turismo-fast-food. O local histórico (quase mítico), cheio de coisas para contar e para mostrar, se contenta agora em exibir a sacada onde Michael Jackson no auge da decadência veio filmar o videoclipe (antes que os idiotas apressados se mani-ainda-festem, digo que eu adoro MJ desde criancinha). Enfim, um turista desses desavisados e atrapalhados por guias incompetentes, sai daqui jurando que o Rei do Pop fez mais pelo Centro Histórico que Neguinho do Samba ou Vivaldo da Costa Lima. Quem? Essa porra tem que parar! Nada de fitinhas do Bonfim no Rosário dos Homens Pretos e nem três pedidos para o gênio da lâmpada, cacete. Tenhamos decência, porque Anastácia dorme de olhos bem abertos nos fundos do templo. É isso aí, Risério: cidade de cretinos!

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